O Carnaval passou, e com ele vieram os sorrisos, as cores e a falsa sensação de liberdade que, para muitas mulheres, dura pouco. Entre os blocos e as avenidas, a alegria se misturou ao medo. O assédio disfarçado de “brincadeira”, os toques sem consentimento, os empurrões e as palavras grosseiras foram apenas a ponta do iceberg de uma realidade cruel: a violência contra a mulher não dá trégua, nem mesmo quando o país inteiro celebra.
O Ciclo da Violência: Do Primeiro Grito ao Silêncio Fatal
A violência contra a mulher raramente começa com um soco. Na maioria das vezes, ela se inicia de forma sutil: um controle excessivo, ciúmes doentios, ofensas que tentam diminuir a autoestima. O ciclo da violência doméstica, identificado pela psicóloga Lenore Walker, tem três fases bem definidas:
1. Aumento da tensão – Pequenos desentendimentos, críticas constantes, humilhações e tentativas de controle.
2. Explosão da violência – Pode ser verbal, psicológica, física ou sexual. Aqui, a mulher já sente medo, mas muitas vezes acredita que “ele vai mudar”.
3. Lua de mel – O agressor pede desculpas, promete que nunca mais fará isso, se mostra arrependido e amoroso. Mas o ciclo recomeça – e a cada volta, a violência pode se tornar mais brutal.
Infelizmente, quando essa escalada não é interrompida, o final pode ser o pior possível: o feminicídio. No Brasil, a cada seis horas, uma mulher é assassinada simplesmente por ser mulher.
Modalidades de Violência Contra a Mulher
A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) reconhece diferentes formas de violência, e todas elas são gravíssimas:
• Violência física – Socos, empurrões, chutes, cortes, agressões que deixam marcas visíveis.
• Violência psicológica – Manipulação, humilhação, chantagem emocional, ameaças. Muitas vezes, essa é a mais difícil de identificar, mas seus efeitos são devastadores.
• Violência sexual – Qualquer ato sexual sem consentimento, inclusive dentro do casamento. Ninguém é obrigada a ceder ao parceiro.
• Violência patrimonial – Destruição de bens, retenção de documentos, controle financeiro extremo.
• Violência moral – Calúnias, difamações, insultos que visam desmoralizar a mulher.
Como Romper o Ciclo da Violência e Buscar Ajuda?
A mulher que está em um relacionamento abusivo precisa saber que não está sozinha e que tem direitos. O primeiro passo é reconhecer os sinais e procurar ajuda. Algumas ações fundamentais são:
• Denunciar – Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou 190 (emergência policial).
• Buscar apoio – Converse com amigos, familiares ou grupos de apoio. O isolamento é uma das armas do agressor.
• Medida protetiva – A Lei Maria da Penha permite que a mulher consiga afastar o agressor e impedir contato.
• Saída estratégica – Se preparar financeiramente e emocionalmente para sair de um relacionamento abusivo pode ser crucial para evitar um desfecho trágico.
Violência no Carnaval: Quando a Folia Vira Pesadelo
Durante o Carnaval, os números de violência contra a mulher disparam. Assédios são banalizados, a cultura do “não é não” continua sendo ignorada e, muitas vezes, a impunidade predomina. Beijos forçados, puxões de cabelo, toques sem permissão – tudo isso é violência sexual e deve ser denunciado.
A sociedade precisa entender que o corpo da mulher não está à disposição de ninguém. Uma roupa curta não é convite, uma dança não é consentimento, e um sorriso não é sinal verde.
O Fim da Violência Começa com Informação e Coragem
Nenhuma mulher merece viver com medo. Nenhuma mulher precisa aceitar um relacionamento abusivo. A violência contra a mulher não é um problema individual, é uma questão social que precisa ser enfrentada por todos.
Se você, mulher, está passando por isso, saiba: há saída e você não está sozinha. Busque ajuda, denuncie. Sua vida vale mais do que qualquer promessa de mudança.
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